Igreja: Fundamento e Propósito (p)2000

Fundamento:

Poucos são os cristãos que não conhecem a célebre pergunta de Jesus dirigida aos seus discípulos: “Quem diz o povo ser o Filho do homem?”. Naquele momento de seu ministério nosso Senhor Jesus procurava o material para edificação de sua Igreja, na qual ele mesmo se lançaria como pedra principal, alicerce e fundamento.

Em princípio Jesus empreendeu uma análise nos tipos de materiais então disponíveis, interrogando os discípulos sobre qual o conceito que o povo tinha acerca do Filho do homem.

O povo estava dividido em seus conceitos, inseguros, místicos. Não tinha a visão de Jesus como sendo o Cristo, o Filho de Deus (Mt 16.14). Logo estes não poderiam ser utilizados na obra que o Senhor Jesus planejava erguer por todas as partes do mundo. Esta profissão duvidosa do povo, e errônea acerca de Jesus, constituía material barato e de péssima qualidade para que Jesus lançasse mão dele na edificação da casa que deveria suportar a fúria dos ventos, das chuvas, das cheias, dos desgastes, das intempéries e do tempo.

O Senhor Jesus, como arquiteto experimentado, não se apressou na escolha do material, mas prosseguiu em sua investigação.

Outro elemento analisado por nosso Senhor Jesus foi, com certeza, a qualidade da mão de obra para a construção da casa espiritual na qual ele próprio iria morar. Afinal, a promessa que ele nos fez foi de habitar, e não de visitar de vez em quando.

Assim, o Senhor Jesus não viu no povo qualidade de trabalho para iniciar sua empreitada gigantesca.

Certamente que o povo duvidoso e ignorante de Mateus construiria uma casa condizente com o gosto de Elias, de Jeremias ou de João Batista.

A opinião que o povo tecia acerca de Jesus não mereceu sequer ser comentada pelo Senhor. Sem nada indagar nem replicar, o Senhor Jesus direciona sua atenção desta vez para seus discípulos. Note-se que Jesus dirigiu sua pergunta a todos os discípulos ali presentes, e não somente a Pedro como alguns podem deduzir. Jesus perguntou no plural: “Mas vós — continuou ele — quem dizeis que eu sou?”.

Foi exatamente na resposta celestial de Pedro, representando o grupo que Jesus encontrou o material para iniciar a fundação de sua Igreja, sendo ele próprio, Jesus, a pedra fundamental, a base da Igreja edificada.

Pedro foi incisivo na sua profissão de fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Ele recebera de Deus a revelação exata que todo crente deve ter de Jesus. Uma revelação do caráter messiânico de Jesus, relacionado à sua obra expiatória e redentora como Messias; e do seu caráter divino e santo, relacionado à origem celestial e eterna de sua pessoa.

Os judeus consideravam blasfêmia conferir a alguém o título de Filho de Deus, pois para eles isso era igualar-se a Deus, tornar-se o próprio Deus. A afirmação de Pedro estava exatamente de acordo com a revelação divina. Jesus é a própria revelação que Deus faz de si mesmo para a humanidade; é a sua presença em nosso meio, Deus Emanuel, Deus conosco, o Pai revelado no Filho. Deus jamais permitiu que sua imagem fosse representada por obras de ouro, prata, barro, gesso ou madeira; nem ser adorado nelas ou por meio delas. O Deus de Israel e da Igreja somente se manifestaria naquele, e por aquele, que recebeu o poder de ter a vida em si mesmo, Jesus.

Com esta convicção de Pedro extensiva também aos demais discípulos, o Senhor Jesus, mestre de obra capaz, em seguida mandou “virar o concreto” para dar início à construção de sua Igreja. Isso pode ser entendido por duas razões: Primeira: prometeu dar a Pedro as chaves para a abertura da porta. Segunda: desde esse tempo o Senhor Jesus começou a mostrar no horizonte a necessidade de humilhação e posterior exaltação do Filho de Deus.

Pedro cumpriu fielmente a função da qual Jesus lhe incumbiu. Com as chaves do reino em suas mãos ele abriu a porta da Igreja aos judeus no dia de Pentecostes, e aos gentios na casa de Cornélio. Desde então nem judeus nem gentios dependem mais de Pedro nem de suas chaves [que ele deve ter perdido] para entrar na Igreja de Jesus.

A Igreja depende unicamente do poder de Jesus para sua sustentação e vitória contra as portas do inferno.

Pedro recebera tão somente de Jesus o privilégio de ser o primeiro a anunciar a mensagem de salvação tanto aos judeus quanto aos gentios. Além do mais, para uma porta que deve permanecer aberta, quem se importa com aquele para quem as chaves foram dadas?

É interessante lembrar que o Pedro que revelou o Filho de Deus, também cogitou as coisas dos homens dando lugar à ação de Satanás, sob veemente repreensão de Jesus. Isso se deu logo em seguida à sua afirmação de fé. O Senhor teve paciência com o seu discípulo, que apesar de crente ainda não estava convertido.

O templo que o Senhor Jesus ergueria excederia em glória ao primeiro construído por Salomão; e ao segundo edificado por Esdras, pois no primeiro, Deus Pai entrou, manifestou sua glória e saiu; no segundo, Deus Filho entrou, manifestou sua glória e saiu; porém no terceiro -que somos nós- Deus Espírito Santo entrou, manifestou sua glória e dele jamais sairá. Aleluia!

Propósito:

O templo era o local escolhido e planejando por Deus para a aproximação, redenção, santificação e adoração do homem ao seu Criador. Era a provisão para o restabelecimento da comunhão que o homem perdera em virtude do pecado que passou a distanciá-lo desde a queda no Jardim do Éden.

No Antigo Testamento Deus utilizou-se de Israel, seu templo e Igreja imóvel, para onde os povos afluíam para encontrar e adorar ao Deus verdadeiro, o Deus de Israel.

O Senhor disse a Moisés: “E me farão um santuário, para que eu possa habitar no meio deles”. (Ex 25.8) Aquele santuário erguido por Moisés na terra era somente um modelo do verdadeiro tabernáculo erguido por Deus nos céus desde a fundação do mundo.

Através do ofício sacerdotal, da grandeza e riqueza do templo, dos detalhes cerimoniais e de sua glória, Deus mostrava para Israel, e através de Israel, que ele era o Deus que criou os céus e a terra; o Deus único e verdadeiro, Deus de amor, graça, misericórdia, santo e todo-poderoso. Deus também mostrava que para se aproximar dele o homem deveria submeter-se às exigências requeridas por ele: fé, obediência e amor.

A compreensão da chamada e função de Israel — Igreja do Antigo Testamento — dá-nos uma visão melhor e mais ampla da chamada e função da Igreja neotestamentária, pois, através de ambas, Deus propõe à humanidade caída e degenerada, a reconciliação, regeneração e comunhão com Ele através do seu Filho Jesus.

Através de Israel tudo isso era feito tipologicamente, apontando para o futuro, pois o templo, o ofício sacerdotal, as cerimônias e as festas somente traçavam um contorno, uma sombra e se apresentavam como tipo do verdadeiro templo e sacerdote que Deus ergueria entre os homens; falavam de antemão da perfeição moral, dos atributos divinos do Filho de Deus, da obra redentora de Cristo, que ao seu tempo se manifestaria entre nós, como narra o princípio do Evangelho de João.

Continuando a conhecer o progresso da revelação divina quanto aos meios proporcionados ao homem no intuito de reaproximá-lo do Criador, estaremos analisando a seguir quatro diferenças básicas na função de Israel no Antigo Testamento, e hoje na Igreja. Utilizaremos como texto base o diálogo de Jesus com a mulher samaritana. (Jo 4.5-45).

Quanto ao povo:

O plano da salvação traçado e executado pelo amor e o poder de Deus teve sua primeira menção no Jardim do Éden quando Deus disse à serpente que da semente da mulher suscitaria aquele que feriria a cabeça de Satanás.

Mais adiante Deus chama Abrão e lhe promete que nele seriam benditas todas as famílias da terra. Tendo Deus confirmado sua promessa através de Abraão, Isaque e Jacó, ele permite que essa descendência cresça escravizada na terra do Egito por quatrocentos e trinta anos.

Resgatando este povo hebreu do Egito através do profeta e estadista Moisés, Deus forma a nação Israelita que se torna depositária das bênçãos do Senhor para exemplo de toda a terra.

Após a conquista da terra prometida, sob a liderança do capitão Josué, o plano de salvação continua em expansão atravessando o período dos Juízes, e entrando no período monárquico, quando Deus firmou com Davi uma aliança real, prometendo suscitar de sua linhagem aquele que se assentaria e reinaria em seu trono para sempre, Jesus. Aleluia!

Por causa dos pecados de idolatria de Salomão, Deus permite que Israel tenha suas doze tribos divididas em dois reinos. Reino do norte: Israel (Dez tribos). Reino do sul: Judá e Benjamim.

Ambos os reinos coexistiram sendo alvos das promessas, do amor e da graça de Deus, mas a Judá coube o privilégio de conduzir a linhagem real, da qual viria o Cristo, o Filho de Deus, o Filho de Davi, o Filho do homem, Jesus. Essa foi uma bênção proferida por Jacó quando à beira da morte instruía seus doze filhos, dizendo entre outras coisas em relação ao domínio: O cetro não se afastará de Judá.

No decurso dos anos tanto Judá quanto Israel caiu em pecados tão grandes e freqüentes em seus reinados que Deus, após incontáveis exortações e repreensões, trouxe-lhes juízo sob a forma de cativeiro, tornando-os vassalos, povo subjugado, de uma nação estrangeira, a Babilônia.

Israel foi para o cativeiro primeiro, em seguida foi Judá. O reino de Israel se perdeu na idolatria assíria e promiscuiu-se com outros povos desintegrando-se como povo santo.

Judá aprendeu a lição, voltou do castigo, reconstruiu o templo sob a liderança do sacerdote e escriba Esdras, reedificou os muros de Jerusalém com a ajuda do estadista Neemias, e manteve-se como povo exclusivo de Deus, portador da bênção da salvação para a humanidade.

Sendo assim, ser ou naturalizar-se judeu naquele tempo, na questão religiosa, era melhor e mais difícil do que se tornar hoje cidadão suíço, norte americano, japonês ou italiano. Este privilégio do povo judeu despertava a admiração de uns e a inveja de outros. É justamente neste ponto que a mulher samaritana tocou em sua conversa com o Senhor Jesus (Jo 4.9).

Uma das maiores tendências do homem é estagnar, parar, estacionar diante do progresso da revelação que Deus faz de si mesmo no passar dos anos.

Judá era portadora da promessa da salvação, e isso ela não abria mão a ninguém, recusando-se a compreender que Deus através de Jesus estava derrubando os preconceitos raciais e estendendo sua maravilhosa salvação aos povos de todo o mundo.

Foi tão grande a dificuldade de o homem compreender a inefável graça de Deus a todas as nações que os primeiros judeus que se tornaram cristãos resistiram durante algum tempo a ordem de se pregar salvação aos gentios. Em princípio os judeus acharam que somente eles poderiam tornar-se cristãos e receber a salvação, o dom do Espírito.

O apóstolo Pedro se viu também em tal dificuldade quando não aceitou comer os animais considerados impuros, na visão que recebera de Deus, no capítulo dez de Atos. Porém, em seguida o Espírito de Deus lhe manda ir ter com os gentios, à casa de Cornélio, levar a mensagem da salvação.

Deus também levantou um apóstolo exclusivo para os gentios: Paulo, que evangelizou praticamente toda a Ásia, tantos aos judeus como aos gentios.

Está vendo? O Evangelho alcançou as nações. Eu e você fomos achados pela salvação de Deus através de sua graça em Jesus. Tanto em Apocalipse capítulo cinco, versículo nove como no capítulo sete, versículo nove, o Senhor Jesus é adorado como o cordeiro que comprou e salvou pelo seu sangue multidões de pessoas que procedem de toda tribo, língua, povo e nação. Aleluia!

Quanto ao local:

Vamos continuar analisando o trecho bíblico que relata o momento em que Jesus se encontra com a mulher samaritana, pois nessa ocasião a Bíblia expõe as coisas boas, porém limitadas do judaísmo; e as coisas excelentes e ilimitadas de Cristo.

O termo Igreja no sentido original grego quer dizer “chamados para fora”. Assim, tanto Israel como a Igreja foram chamados de um lugar e transportados para outro.

Com mão forte Deus resgatou o povo hebreu da escravidão do Egito e o fez habitar na terra prometida, Canaã. Com a mesma mão forte Deus nos resgatou do reino das trevas e da escravidão do pecado, e nos fez habitar nas regiões celestiais em Cristo Jesus, como escreve Paulo aos Efésios.

Todo povo para se constituir nação precisa de um local geográfico para se estabelecer. Assim fez Deus que seu povo herdasse a terra prometida, tendo como capital política, social e religiosa a cidade de Jerusalém, conquistada a partir do reinado de Davi.

Os Judeus sabiam muito bem que o templo em Jerusalém fora consagrado por Deus como local para onde estavam voltados seus olhos, de onde saíam suas bênçãos, e para onde estavam voltados os ouvidos do Senhor para ouvir as orações do seu povo, conforme registrado em Segunda Crônicas, capítulo sete, no momento em que Salomão consagrava o templo ao Senhor.

O profeta Daniel conhecia esta promessa divina, pois em seu quarto, no cativeiro babilônico, havia janelas abertas na direção de Jerusalém.

A mulher samaritana, e certamente o povo daquele lugar, sabiam que os judeus eram detentores deste privilégio de se constituir o centro religioso da nação. E como por inveja os samaritanos tentavam voltar um pouco mais atrás na história e lembravam que em suas terras Moisés ordenou que se ministrasse ao povo no monte Gerizim e no monte Ebal, no intuito de desmerecer Jerusalém como local de adoração.

Os filhos de Israel estavam mesmo em verdadeira intriga quanto ao local de adoração, a ponto da mulher samaritana levantar imediatamente este assunto ao perceber em Jesus seu ministério profético.

Aquela mulher não hesitou em apresentar sem demora suas convicções religiosas com certa indignação e desabafo a um profeta judeu que apareceu por aquelas bandas. Ela considerou o momento adequado e inadiável para tirar “certas diferenças” existentes entre os dois povos.

Mas ela nem imaginava que Jesus também estava interessado em quebrar estas barreiras, aparar estas arestas, colocando-se como aquele através de quem, tanto judeus como samaritanos e gentios adorariam o Pai.

Foi de fato Judá a única tribo que se manteve fiel na adoração ao único e verdadeiro Deus. As regiões de Samaria e Galiléia estavam invadidas naquele tempo pelos gentios de tal forma desde o retorno do cativeiro, que os filhos de Israel adoravam toda espécie de deuses pagãos, por influência e promiscuidade gentílica. Isso é verdade pelo que o Senhor Jesus falou à mulher: “Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que nós conhecemos, porque a salvação vem dos judeus”.

Deus começou revelando e trazendo sua salvação através dos judeus. Este povo reivindicava esta bênção somente para si. Os samaritanos por sua vez também ostentavam suas exigências religiosas. Mas a salvação vem dos judeus. Jesus era judeu.

Foi exatamente no versículo vinte e um de João, capítulo quatro, que o Senhor Jesus desmistificou o monte Gerizim, e à Jerusalém não deu importância alguma quanto ao local de adoração, dizendo: “Mulher, podes crer-me, que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai”.

Hoje há milhares de pessoas viajando para a terra santa com propósitos religiosos, buscando fogueiras santas, batismo no rio Jordão, oração no muro das lamentações, sem necessidade alguma.

Hoje adorar o Pai é possível em qualquer lugar do planeta terra. Veja a seguir que lugares são estes. Jesus mesmo descortinou este horizonte onde se encontrariam os tais que o adorariam em espírito e em verdade: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”. (At 1.8).

Israel fora chamado por Deus para ser portador de uma mensagem que as demais nações viriam ao seu encontro para tomar conhecimento. Israel era o modelo estático de Deus na pregação do Evangelho, era a vitrine em que Deus mostrava ao mundo a beleza de sua santidade.

A Igreja neotestamentária foi chamada para levar ao mundo a pregação das boas novas, para ir de encontro às nações anunciando a salvação em Jesus. A Igreja é o instrumento dinâmico de Deus que não se limitou aos termos de Israel, mas atravessou as fronteiras internacionais e alcançou os confins da terra.

Como nota explicativa, observe que a expressão Israel geralmente significa a nação inteira incluindo Judá, Samaria e Galiléia. Em alguns casos a expressão Judéia também significa politicamente a nação inteira, Israel. Sendo assim, é necessário entender o contexto na aplicação destes termos.

Quanto à forma:

Dos aspectos que distinguem Israel da Igreja, a forma de adoração é o que mais se evidencia como diferente.

Após serem os hebreus resgatados pela mão forte do Senhor, da escravidão do Egito, tiveram eles que se submeter aos ensinos mosaicos, que os instruíram em como se aproximar e adorar o seu Deus santo e todo-poderoso.

Deus os tirou do Egito para santificá-los e apresentá-los às demais nações como modelo de fé, obediência e amor ao Deus único e verdadeiro, o Deus Jeová, o Deus de todas as nações.

A cultura egípcia influenciou intensamente a formação e conceitos religiosos da pequena família de Jacó — agora numerosa — que chegara ali aproximadamente quatro séculos antes do êxodo.

Deus teve que por muitas vezes doutrinar seu povo acerca da adoração única ao Deus santo e verdadeiro, digna a Jeová.

Os egípcios reverenciavam e se dobravam diante de dezenas de deuses, representados por pessoas, animais, objetos e até fenômenos naturais.

Exemplo dessa tendência que o povo tinha para a idolatria, é que Moisés os encontrou adorando um bezerro de ouro, ao retornar de uma demorada missão longe do povo.

Mas Deus traçou um plano para combater e extinguir esta prática abominável no meio do seu povo. Os hebreus levaram tão a sério, ao pé da letra, a providência divina que quando o Senhor Jesus veio a terra cumprir sua missão, até ele foi acusado por não ter guardado o sábado.

Isso mesmo. Foi no sábado que Deus encontrou a solução para lembrá-los que o Senhor é o Deus único, verdadeiro, Criador dos céus e da terra.

Estamos falando sobre a forma de adoração, e a guarda do sábado era uma das exigências cerimoniais para adorar ao Senhor. Tanto que dos dez mandamentos, os três primeiros são de ordem moral, o quarto — lembrar e santificar o sábado — é de ordem cerimonial, e os seis restantes são de ordem civil.

Por que o Senhor incluiu um mandamento cerimonial no decálogo? Estratégia divina. Assim que Deus manda seu povo lembrar do sábado, ele explica por que. Consulte o capítulo vinte de Êxodo.

A natureza humana decaída e degenerada pelo pecado estava sempre fazendo o homem esquecer-se dos mandamentos divinos, e de tê-lo como Deus exclusivo.

Com a guarda do sábado, o povo uma vez por semana, era obrigado a lembrar por que naquele dia nada se fazia: porque o Deus que criou os céus e a terra, em seis dias o fez, e ao sétimo descansou. Isso ficaria constantemente aceso na mente do povo para que eles não se voltassem para deuses estranhos, pagãos.

Mas a guarda do sábado também mostrava que Deus estava resgatando toda sua criação através da obra redentora de Jesus, inclusive o dia do descanso. Tanto que Jesus até do sábado tornou-se Senhor.

Mesmo assim o povo volta e meia encontrava-se adorando deuses pagãos, o que o Senhor repreendia severamente. O Senhor Deus de Israel, o nosso Deus, trabalhou muito para extirpar a idolatria do meio do seu povo. Até Salomão com toda sua sabedoria foi vencido por este erro. Imaginem.

Mas foi justamente no cativeiro babilônico que os hebreus foram curados da idolatria. Desde então se podia ainda encontrar muitas falhas na conduta e no serviço prestado ao Senhor, mas idolatria nem pensar.

Resolvida esta questão do sábado, falemos um pouco agora acerca das cerimônias que Deus estabeleceu para que fossem observados pelos sacerdotes, levitas, e pelo povo.

É bom deixar claro que Deus estava em tudo isso preparando o povo para receber seu Filho amado Jesus.

Em Êxodo, capítulo vinte e cinco, versículo oito, Deus fala para Moisés: “E me farão um santuário para que eu possa habitar no meio deles”. Ninguém foi mais detalhista do que o Senhor na construção de uma obra nesta terra. Nisto o Senhor estava doutrinando o seu povo quanto à santidade que ele exigia para que seu povo se mantivesse em comunhão com seu Deus.

Através do tabernáculo Israel vislumbrava a forma, a sombra, a silhueta do caráter divino, santo e perfeito do Cristo que Deus manifestaria entre nós, o verdadeiro tabernáculo erigido por Deus desde a fundação do mundo.

Vamos enumerar algumas observâncias cerimoniais instituídas por Deus para serviço no tabernáculo, e as festas:

O tabernáculo: Ele era rico em ouro, madeira e tecido. Todos os seus compartimentos e móveis eram detalhadamente medidos com precisão exata. Tudo isso falava da perfeição moral de Cristo, e desse caráter que Deus implantaria nos membros de sua Igreja.

O sacerdócio: eram pessoas separadas da tribo de Levi que ministravam o serviço no tabernáculo, e posteriormente no templo, oferecendo sacrifícios, intercedendo e ensinando ao povo a palavra de Deus. Tudo isso falava do ministério profético, da obra redentora, e da posição intercessora de Cristo quando veio a terra, e hoje, à direita de Deus. Fala também da conduta santa do crente e do seu serviço prestado como servo do Senhor, na Igreja onde congrega, e em outros lugares, quando enviado.

Os sacrifícios: Vários tipos de animais eram usados para morrer no lugar do pecador. Cada animal oferecido encobria um tipo de pecado, e o pecador oferecia um animal de acordo com suas condições financeiras, e de posse. Isso representava o Senhor Jesus oferecendo-se como cordeiro para apagar o pecado do homem através do seu sangue derramado na cruz do calvário. Jesus fez o que todos os animais não puderam fazer porque através do sangue de animais os pecados eram somente encobertos e mantidos sob a tolerância e paciência divina até o tempo do verdadeiro sacrifício que removeria eficaz e totalmente os pecados da humanidade, através do sangue do cordeiro que nos purifica de todo pecado, Jesus. Aleluia! Isso mostra também que Jesus é o cordeiro que pode ser “comprado” e oferecido por qualquer pecador, rico ou pobre, pois está ao alcance de todas as classes sociais, culturais e raciais entre as nações.

As festas: Alguns chegam até dizer que Deus é festeiro. Eram muitas as festas que Israel observava, mas cada uma delas tinha seu significado espiritual. A maior parte delas estava relacionada com a obra de Jesus. A primeira festa era a festa da Páscoa. Fala do sacrifício de Jesus, o cordeiro pascoal. Outra festa, a dos Pães asmos, que durava sete dias. Confirmava que a redenção feita por Jesus abrangia toda criação de Deus, incluindo o sábado, porque o sábado foi criado por causa do homem, e até do sábado o Filho do homem é Senhor. A Festa das primícias. Falava de Jesus como tendo sido morto, foi ressuscitado tornando-se a primícia dos que dormem.

Ainda há muitas outras festas e datas solenes observadas pelos judeus: Pentecostes, significando o derramamento do Espírito Santo; Trombetas, significando o futuro reajuntamento de Israel; Tabernáculos, significando o repouso milenial de Israel e das nações sob o reinado de Cristo. Consulte o capítulo vinte e três de Levíticos para conhecer mais sobre as festas.

É bom lembrar que todos os cerimoniais judaicos serão novamente observados no período do milênio.

Resumindo, o povo de Israel possuía o mais complexo sistema de formas para adoração ao Senhor. Mas os judeus não compreenderam que as práticas cerimoniais do judaísmo estavam com seus dias contados.

Prova disso foi que Jesus sofreu acusações dos fariseus por seus discípulos colherem espigas no dia de sábado, por realizar curas nesse dia, por não lavar as mãos para comer, por visitar a casa de pecadores e publicanos, e tantas outras observâncias que os religiosos primavam acima do temor de Deus.

O povo chegou a um grau de apostasia tão grande que perdeu todo propósito espiritual dos sacrifícios, cerimônias e festas, caindo num completo formalismo religioso.

Mas, voltando ao poço de Jacó, naquele fim de tarde, vamos ver e conhecer o verdadeiro conceito de adoração e serviço que Deus hoje requer de seus filhos.

Jogando o formalismo por terra, o Senhor Jesus passou a ensinar a mulher samaritana que Deus é espírito, e que importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. Vamos agora explicar esta questão de forma ilustrativa.

“Consideremos o advento de Jesus como a chegada de um irmão vindo de muito longe para visitar sua família. Enquanto este irmão não chegou, ele se apresentou e se comunicou através de cartões postais, dando-se a conhecer aos poucos aos seus familiares. Nesse período os cartões postais recebidos pela família tiveram a maior importância do mundo para ela, pois eles eram as únicas formas visíveis que faziam lembrar a iminente chegada do irmão. Assim foi no Antigo Testamento a função dos objetos utilizados no culto ao Senhor, até que nosso irmão Jesus chegou e se manifestou no meio de nós. Agora, o que nos importam os cartões postais se nós já temos a presença pessoal do nosso irmão Jesus?”

O Senhor Jesus mostrou para Israel e para a Igreja que ele mesmo é a forma de adoração exigida pelo Pai.

Felipe, um de seus discípulos, doutrinado pela importância da forma visível do culto, pediu a Jesus uma coisa que para ele bastava: “Senhor, mostra-nos o Pai” ao que Jesus respondeu: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: mostra-nos o Pai? A partir de então o Pai focalizou toda direção do culto ao nosso Senhor Jesus homem, expressão exata do Deus invisível.

Deus está à procura de verdadeiros adoradores. Deus não se importa nem um pouco com o que o homem faz de importante na sociedade, nem o que ele possui nesta vida, mas o que ele é moral e espiritualmente.

O livro de Jó é prova incontestável das primeiras qualidades que Deus se agrada no homem. Jó era homem muito rico, o mais rico do seu tempo. Ninguém possuía o que Jó tinha, mas antes de mencionar quaisquer das propriedades de Jó, o testemunho de Deus acerca dele é o seguinte: “Homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal”. (Jó 1.1). Jó agradou a Deus por sua fé.

Foram nove as bem aventuranças proferidas por Jesus no sermão do monte, e todas elas estão relacionadas com o caráter moral e espiritual do homem. Nenhuma das bem aventuranças está associada a formas e fatores externos. Consulte o capítulo cinco de Mateus.

Hoje, todo homem com fé e ousadia no Espírito Santo tem acesso livre ao santo dos santos, à presença do Senhor, conduzindo o sangue do sacrifício que nosso Senhor derramou na cruz para propiciação pelos nossos pecados. Não há necessidade alguma de observâncias formais. Basta ter fé no Senhor Jesus e andar na verdade.

Duas ordenanças cerimoniais somente Jesus nos deixou. A primeira, introdutória, o batismo nas águas por imersão; A segunda, periódica, a ceia do Senhor.

Para fechar este ponto mostrando as diferenças existentes entre o Velho e o Novo Testamento quanto à forma de culto e do serviço prestado a Deus, examine o seguinte: Salomão bebia vinho e água em taças de ouro; Jesus não se importava de beber água à beira do poço. Salomão tinha cavalos e éguas aos milhares; Jesus tomou um jumentinho emprestado para entrar em Jerusalém. Salomão construiu um enorme e confortável palácio para si; Jesus não tinha onde reclinar a cabeça. Salomão servia banquetes em suas luxuosas instalações; Jesus realizou a última ceia num cenáculo improvisado. Salomão construiu o mais luxuoso templo do Antigo Testamento; Jesus usou o mesmo cenáculo para inaugurar a Igreja no dia de Pentecostes. Davi cantou centenas de hinos nos cerimoniais; Jesus cantou um hino na última Páscoa e seguiu para o local de prisão e tortura. A glória de Salomão passou; a realeza de Davi também, mas a glória de Jesus é eterna, sua majestade para sempre e o seu reino jamais terá fim. Aleluia!

Um dia vamos estar ao lado de Jesus em cortejo triunfal pelos céus, em vestes de linho fino, brancas e resplandecentes. A Igreja pode ser hoje zombada por sua pobreza material, mas naquele dia o Senhor Jesus repartirá conosco a herança que ele recebeu do Pai. Amém.

Quanto ao tempo:

Uma vez por ano todas as tribos de Israel subiam à Jerusalém para adoração. O tempo e as épocas no Antigo Testamento figuravam como fatores que determinavam o momento para a realização de quase tudo.

Mas mesmo na espera pelo tempo adequado para as atividades do povo, Deus sempre tinha propósitos e verdades espirituais para o benefício do seu povo.

Muitos dos períodos observados estavam relacionados com a obra de Jesus. Vejamos:

O cordeiro da Páscoa era separado quatro dias antes do sacrifício, tipificando Jesus que foi separado quatro mil anos antes para a crucificação no calvário.

Uma vez por ano o sumo sacerdote entrava no santo do santos através do véu e oferecia sacrifício pelos pecados do povo, tipificando Jesus que, rasgando o véu, realizou um único sacrifício, perfeito e eterno.

No sétimo dia a Lei e os Profetas eram lidos e ensinados no templo, tipificando o milênio, o reino milenial, período em que a terra se encherá do conhecimento do Senhor.

Muitos outros casos estão relacionados com o propósito de Deus no desenvolvimento do plano da salvação do homem.

A coisa era tão séria com relação ao tempo que o pregador em Eclesiastes se viu preso às limitações do tempo para a realização de seus projetos. Veja o capítulo três de Eclesiastes. Mais um exemplo clássico da precisão do tempo determinado por Deus foi que Jesus passou seis horas pendurado na cruz, em agonia, resgatando por seu sangue toda criação que Deus realizou em seis dias. Falta ainda a última hora para completar o dia do descanso. Essa hora e esse dia, Deus determinou para o milênio, quando toda a terra descansará em Jesus a recriação divina.

O apóstolo João também diz que já é esta a última hora. A hora sétima no sentido de que o pecador arrependido já pode descansar na obra redentora consumada por Jesus no calvário. O Senhor tudo já resgatou das mãos de Satanás. O Senhor tem todo o poder no céu e na terra.

Nós vamos compreender melhor a diferença de tempo no Antigo e Novo Testamento observando que Deus não está mais interessado nos pormenores cerimoniais. Não existe mais tempo de sobra. O tempo é curto. A noite já vem. Jesus quer que o pecador se arrependa e venha já para a luz, para o caminho, para a verdade, para a vida.

O tempo é agora de adorarmos a Deus, de uma forma que nem Abraão, nem Isaque e nem Jacó o adoraram. Nós temos o Espírito dentro de nós, em sua forma plena, derramada. Temos a palavra de Deus falada pelo próprio Filho. Temos a promessa da sua presença todos os dias da nossa vida aqui na terra. Aleluia!

A Igreja está na iminência de ser tirada da terra. São os últimos momentos que antecedem a grande viagem. O que resta é estarmos com nossas vestes prontas, desembaraçados, com passaporte e passagem na mão, vigilantes, à espera da ordem de partida. Não podemos dormir nem cochilar. De repente o noivo vem, e vai nos chamar para as bodas.

Se for louvar ao Senhor, a qualquer hora abro minha boca e levanto minhas mãos. Se for falar das maravilhas do Senhor, a qualquer hora do dia posso fazer. Se eu for pedir perdão ao Senhor pelos meus pecados, dobro meus joelhos e me derramo aos pés do meu Senhor. Se for fazer o bem, ajudar meu irmão, amar meu inimigo, até de madrugada devo dispor-me.

A hora vem e já chegou, proclamou Jesus. Mas vem a noite quando coisa nenhuma poderá ser feita.

Mas até o choro tem o seu tempo determinado, porque o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.

Nesse dia, quando romper a alvorada, a nossa vida se manifestará com Jesus pela nossa fé na redenção eficaz do seu sangue, e será o momento mais lindo na história de cada crente fiel, amanhecer com Jesus e depois estar na eternidade com ele, desfrutando da sua doce e maravilhosa presença.

Amém.